4 de março de 2008

Resposta ao tempo

Todos os dias, das noites herdada manhã, eu não sei que faço do tempo. Sou velha senhora temporã. E há uma janela frente a uma mecânica, a um grande hotel, ao oceano. O tempo não se conserta. Piso descalço o tapete deste quarto, das catedrais, dos mangues primordiais, onde a vida é repouso e movimento. Tempo, tempo, tempo. Não sei de pecados, não sei de infernos. Sei de tédios. É tempo de romãs, é tempo de maçãs. Salutares remédios. Aos irremidos. Quem nos salva, amiga? Quem olha por nós? As contas e os nós. A novena e o mês. O terceiro dia e o quinto útil. Calvário e alento. Tempo, tempo, tempo. Se levanto minha voz para saudar uma praia mentirosa e deuses d'água ou se te faz miúda orgulhosa nos labirintos de cartas e quartos é porque o tempo nos rói a geografia. E transpostos janeiros rios, morre-se em maio, antes de belo horizonte. Nunca há testemunhas, o mineiro me disse. Mortas. Tantas vezes diante do crime. Traçado de giz: alfa ômega, morte amarelinha, céu inferno. Bota o agasalho, moleque, vestem teu terno. Sobra-nos um bolero do Aldir, amiga. Estado de exceção. E nossos pés tão no chão, se evitarmos falar, encontram algum mar. Atraca, atraca.

(sobre texto de Thais Monteiro)

3 comentários:

Anônimo disse...

o tempo sempre me assustou. talvez porque me escape, insistentemente. vc falou do 'tempo, tempo, tempo'. já ouvi falar do 'tempo, tempo, tempo, tempo' e ainda não sei. talvez só reste, mesmo, o tempo de um bolero.

Pedro Penuela disse...

registrando o comentário já proferido:
seus textos são pós-modernos o suficiente pra ser isso q vc acha q eles são e mtas outras coisas e
vc sabe q sua interpretação dos seus próprios textos nunca vai ter mto a ver com o q os outros intepretarão...
quanto a esse tempo roedor... sempre gosto de ver os relevos que resultam (repetindo terrenos pisados: de tudo fica um pouco, e isso tb é uma resposta ao tempo)...
acho bonito q eles se formem... são portos onde atracar. E testemunhas...

Thais Monteiro Figueiredo disse...

no 5º dia há salvações nos cantos dos bares. na tranqüilidade de um ordenado fresco e de uma companhia tão boa. já não era preciso saber do teu entendimento, mas é sempre tão bom ser amparada por ele e pelo teu olhar argumentando que pode ser doce sempre. até no carbono das plantas.