25 de março de 2008

Op. 99

E o dia fora de rostos pertinentes a sua carência. Mas ainda havia: do fundo daquele ônibus, o outro vestia um terno, trazia com dificuldade o instrumento. A coincidência do ponto em que desceram fez com que ele procurasse em si alguma beleza para reclamar um acorde. Pediu: te pagaria por uma peça qualquer. Agora. Pra mim. Ele aceitou sem dizer palavra. Aberta a capa, era liberdade. Começou. Teus olhos são luminosos. Não respondeu - ainda não. Dedilhou, não porque pedia a partitura - assim o fez por disponibilidade. Também por disponibilidade, ao baixar o arco, respondeu: conserve a fluência de teu sorriso. Era uma rua de bairro, na calçada. Era Brahms, em adagio affetuoso. Já no quarto, vestido o fraque de realidade, recebeu o bom Slava.

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