3 de abril de 2011

A banda

O cheiro parecia vir de jasmins que, derretidos no calor da tarde, escorriam em poças pela praça. Três moleques revezavam um cigarro. Uma mãe observava o filho dando voltas na diminuta bicicleta com rodinha. Um cão com o hábito de deitar no batente das janelas, à moda dos gatos, fazia o mesmo. Largada, uma melancia aberta às moscas exibia um vermelho de carne crua. Um velho sentado em seu quintal não comia fruta alguma. Um homem reduzia a velocidade para digitar ao celular enquanto dirigia. Duas senhoras inquietas reportavam um roubo. Três meninas arrumavam o cabelo ansiosas frente a uma igreja vazia. Duas rolinhas escondiam-se apressadas. Nenhum gato saltou de um muro, nenhum gato saltou de lugar algum. Uma mulher manobrava o carro na garagem enquanto um casal se despedia sem querer se despedir. Um homem sacava dinheiro no banco e o dividia entre o bolso e a carteira. O supermercado da esquina provava ser o maior fornecedor de sacos de lixo da vizinhança. O esgoto era pouco e corria pela mesma sarjeta ainda que pudesse virar a esquina. O fato é que naquela tarde os que doíam não se esqueceram da dor, os que não doíam dela não se lembraram, não houve banda e, de um ponto-final a outro, cheguei a acreditar que não se falava de amor enquanto o domingo seguia pouco e pela mesma sarjeta.

2 comentários:

Laura Cohen disse...

puxa Léo
minha cidade tá fazendo bem prô-cê
parabéns
beijos

Sal Marinho disse...

excelente!