15 de setembro de 2010

Chega de saudade

Minto se digo doer a saudade, que se tornou, desconfio, coisa fina e contínua, como zumbido perceptível aos ouvidos apenas em grande silêncio. Aí nota-se que o barulho não vem de fora; está ali em nós, dentro de nós, o tempo todo em nós. Talvez saudade seja palavra que repito impreciso quando digo de tua mão pousada em minha coxa enquanto almoçamos (e não sabem mãos e coxas da delicadeza que encenam quase mecanicamente). Talvez saudade seja palavra que impreciso repito quando digo de tua boca semi-aberta amassada contra o travesseiro que assisto antes de te despertar (e não sabem bocas e travesseiros dos indícios que ali encontro de pureza e verdade). Digo do muito suor de nossas manhãs: com ele alimento a elipse da lua, a elipse que agora pode girar na mais tediosa prosa dos dias. Possivelmente não é saudade, possivelmente não é saudade as sutis modulações do apito que, incessante, pede para não fazermos senão repetirmo-nos: boa noite amor boa noite amor.

2 comentários:

Pedro Penuela disse...

Ai Leo...
É sempre tão incrível o q vc escreve (pareço tiete demais, né? mas eu realmente acho mto bom!)
Saudades de ler mais esse blog...
E acho que as mãos, coxas, travesseiros, paredes, colheres, cílios, luas, etc. sabem de tudo isso. Com o saber silencioso que faz as coisas acontecerem misteriosamente como se o mundo já soubesse de tudo.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.