18 de agosto de 2010

Esotérico

Tenho a impressão que nunca compreendi cada vinco do tempo compartilhado, cada veia saliente das pernas. Observar com alguma verdade um corpo e ter calma. Estar calmo. E seguro. Poucos foram aqueles a quem entreguei meu sono - o de quem descansa. Penso que por muito poucos velei a procura dele. E talvez nenhum tenha me dado, enquanto procurei. Tempo e permanência, pedi. Certamente um dia não mais admitirei chamar amor a estas músicas que terminam no volume descendente, pouco a pouco, até o silêncio. Espero-o pelas madrugadas. Penso que invariavelmente esperarei. Porque assim aprendi com minha mãe. Porque assim amam as mulheres da casa. E me habituei a ter sempre um verso pronto, pendurado à maçaneta, para que me acordasse quando girasse desajeitada já no avançado da noite. Ainda sou o menino que antes dizia eu-te-amo com pouco cuidado e muita sinceridade; hoje, talvez, com a diferença do inverso. Mas ainda ele, talvez destino dos que escolhem errar.