30 de março de 2010

Falando de amor

Quando imaginei que o proveito último de um amor era um verso, enrubesceu o beijo num semáforo perdido. A senhora que laborava em longas teias de segunda realidade desfiou os olhos para o sol. The curse is come upon me, she cried. Agora, serão teus apenas e todos os meus rascunhos. E pela fenda de um espelho partido, cruzamos antes que os carros tornassem a andar. Atravessemos. E do silêncio apressado dos que procuram a outra margem, eu tiro um verso de metro raro.

26 de março de 2010

Estate

E olhei ao verde relógio por entre os cílios que se abriam, pois que meu corpo, sem que eu desse por isto, atendia ao dele, desperto: duas silhuetas no teatro se confundiam no traçado que o catálogo chinês evitou nomear. E confidenciei: sei que está acordado - e à formula deu-se a contra-senha de um beijo. Toma-me a rosa-dos-ventos. Descobre as quatro setas que apontam pro este, pra arte dos nascentes, pra arte de vencer madrugadas. Era ele, este, a quem eu oferecia a verdade das manhãs de estate no silencioso diálogo de nosso conforto.

21 de março de 2010

There's a small hotel

Escondi as mãos e o signo de rascunhos. Examinei nas digitais da memória mínimos espaços do teu corpo que preencho com flores e o sumo das frutas. Das madrugadas cresce o tangerina de portas damasco; do pó cansado das ruas, o jasmineiro que não se dá a ver. Encontrar a delicadeza dos pulsos era hábito entre os noivos de tribos inventadas: meu polegar e indicador fechados em círculo na ponta de teu dedo médio. Provisório coração. Batida fina - é vivo. Com a rendição do gesto: "olha como tenho as palmas todas riscadas", ofereci o solo de duas luas para tua livre cartografia: pátrias e estados menores, estandartes menores, cidades e hotéis menores, quartos, leitos, homens menores - o pulso.